3/24/2010

engate taxista

Ontem apanhei o chamado "ginjas". O da carinha matreira, cheio de tiques de engatatão old-school, que tem aquela pronuncia de bairro antigo. Gestos cúmplices a falar, de quem está a permanentemente a vender a banha da cobra.
O Ginjas vinha todo contente: tinha vindo do baile das viúvas, e a noite tinha-lhe corrido bem, - apesar de não ter facturado - tinha ganho o interesse de uma senhora em particular, o que lhe massajou o ego o suficiente para se gabar do feito ainda assim.
Explicou então, com detalhe, que esquema usam os taxistas para ganhar uns cobres à conta das seguradoras. É claro que não é visto como uma desonestidade da classe. É um modo de vida, só.
Não sabem como a vida tá difícil?

3/07/2010

O senhor Romeu

Nervoso, o senhor Romeu começa a falar. Mal me deu tempo para sentar, já dizia que era serralheiro.
-"Faço portas de cemitérios."
- "serralheiro de portas de cemitério? isso é que é uma especialização... Não faz mais nada?"
-"ah, faço de tudo. Sabe lá."

Bem disposto, diz que já trabalhou que chegue e que a seguir quer ir para vale de lençois. Começo a perceber depois que o senhor Romeu tem um problema cognitivo, que o impede de seguir um raciocínio , uma ideia, e acabar uma historia:
Dispara de rajada que teve de fazer uma endoscopia alta, que tem lá-qualquer-coisa, que tem uma cadelinha que tem de levar a passear assim que chegar a casa, que tem família na Holanda, que foi judoca, que o genro é polícia, que tem uma neta que tem jeito para o basquet, que tem 5 filhos, que às vezes tem de puxar da 38 para meter respeito aos rufias, que a neta tem 16 anos.

Espera. Neta com 16? Então, já?
- Pois, tenho um filho com 37.
O senhor Romeu, sempre bem disposto, gordo e cara de bem com a vida, não me pareceu assim tão velho.
- Foi pai com quantos anos?
- Com 14.
- Porra.
- o que é que quer, já era comestivel... Lá foi. Ainda tive problemas no registo, porque não podia dar o filho como meu, era novo demais.

3/04/2010

A queda do nosso glorioso império

Noite.
Taxista.
Depois de indicar direcções e sentar-me bem sentado:

-"Sabe, está para haver uma revolução..."
-"mmm desculpe?"
-"Uma guerra civil."
-"mm.... cá?" digo com cara de cá-não-acontece-nada-pá.
-"...e para breve. Os pobres vão cortar a cabeça aos ricos. Eu pensava que seria daqui a dez anos, mas pela conversa que tive ontem com uma senhora no taxi, percebi que será daqui a 4 anos."
-"ah, ainda vai demorar. Mas isso até faz falta." Eu à espera que ele fosse o cabecilha da guerra civil e afinal nada.
-"Mas sabe que isto me assusta, sabe porquê? porque faremos outra revolução sem sentido e o país não vai encontrar o rumo, e vamos continuar à deriva. Estude história, meu amigo."

Ok.

Imaginar longa dissertação sobre a queda do império português, metendo Filipes, guerras liberais, e a Inglaterra de 1820 e o Sebastianismo.

Encontrado um taxista tão douto e de calibre intelectual à minha altura, tive de partilhar a minha opinião. Resumi a existência do português à sua burrice, ingovernabilidade e talento para se queixar da vida. O gajo ficou ofendido, afinal parece que tinha fé que um dia ainda damos a volta por cima.

3/01/2010

O Moicano

"Sabe menina, eu sou o último dos moicanos... Sou um lobo solitário. Quanto muito, engato uma ou outra viúva ali no Maxime. Mas com classe, não pense que sou ordinário. Eu cá não faço amor como quem come tremoços..."