5/25/2010

Facebook em andamento

O Preto e Verde já tem página no facebook. O taxista vai dando notícias por lá. Adicionem já!

5/23/2010

O taxista, porque?

Perguntaram-me, "porquê o fascínio com taxistas?".
A minha primeira resposta era simplista e emocional: O meu avô foi taxista e era uma figura bem disposta,  um marialva e um Prezado.
Deu-se porém que descobri não haver uma resposta curta, se for a analisar bem a necessidade de taxistas e taxismos na cidade de Lisboa. Esta é a resposta:

O taxista é uma figura arquitipica de Lisboa. Como uma varina ou um aguadeiro, fazem parte da paisagem sociológica de Lisboa e são indissociáveis do seu quotidiano. Os taxistas são como neo-xamans, até certo ponto: Andar de taxi e   começar a ouvir um taxista a explicar como é o mundo é um processo iniciático e, en passant, uma passagem de informação preciosamente guardada e fulcral ( eu chamo-lhes taxismos ) para uma sociedade culturalmente equilibrada: concepções sexistas, homofóbicas, racistas, lendas urbanas, opiniões enviesadas sobre um qualquer assunto sobejamente conhecido academicamente, política, economia, e ulteriormente, putas - outro exemplo de arqueologia social é o piropo-de-trolha, que é preservado entre os elementos masculinos da sociedade - e bares de putas, São necessárias como contraponto a uma sociedade espartilhada no discurso, amarrada ao politicamente correcto e onde praticamente não há escatologia ao nível mediático ( vide Gaiola Aberta ).
O taxista é também um barómetro social credível. Ele contacta diariamente com todas as classes sociais e é um aglomerador de experiências de vida. A sua visão - ainda que, sublinho, enviesada - é o mais puro e genuino reflexo da vivência da cidade, podendo apenas ser comparável à de um sacerdote, um barman, e ulteriormente, um antropólogo.
Sendo eles próprios matéria de análise por não estarem livres de condicionamentos sociais próprios de quem necessita de conduzir um Mercedes para auferir um vencimento que é, por muitas vezes,mais um complemento orçamental que  a principal ou única fonte de receita familiar, revelam toda uma variedade de tipologias profissionais, geralmente trabalho pouco especializado, braçal ou administrativo, sem reciclagem, estímulos sensoriais, cognitivos ou intelectuais.
São também - especialmente nos profissionais mais antigos - as últimas e mais fortes testemunhas do exodo rural em Portugal, arrancados que foram das suas raízes, vindo para a capital apenas por necessidade económica. Experienciam e testemunham desta forma não só uma transformação de cariz geográfico, mas também temporal: Campo, Portugal arcaico e tradicionalista Versus Lisboa presente. Este choque cultural ainda é notado e é para muitos, o único testemunho de uma vivência extra-urbana.
Em jeito de conclusão, Os taxistas são os tradicionais contadores de histórias, agora figuras tipicamente urbanas que, alimentando-se do seu próprio desfasamento geo-cultural, criam este modo característico de pensar que tanto me fascina.

5/21/2010

O taxista fora-do-formato

Meter conversa com taxistas não é só um prazer, é uma arte e uma ciência. Ao longo dos anos, técnicas têm sido desenvolvidas para vencer o silêncio ou para não responder a um falador com um costumaz "Pois, lá terá de ser...".

Como é hábito, pedi ao homem do taxi - este um profissional da estrada, de luvas e tudo - para ir em direcção à Alameda das Linhas de Torres ( é ali para o lado do campo grande ) , para me poupar da francofonicidade do nome do bairro. Caminho suave. Nem a Rádio Amália se ouviu.
Quando chegamos, o taxista vira-se para trás e olha-me em modo redutor:

- Pois cá estamos.... Na Quinta do Lambert.

Mau. Topou-me? ele disse isto como quem cospe no prato que vai comer ( ainda não tinha pago ) e eu, apanhado de surpresa, pausei e pensei - bullet-time com todo o meu pensamento - Olha-me este cabrão, que me tá a mandar isto à cara, vais ver vou já dar-te o troco, avôzinho:
- Bom, isto dantes não se chamava assim, não era? - sim, detesto este nome que dá um ar pseudo-pseudo-pomposo cagão ( ainda há a Alta de Lisboa, ui ) ao que é apenas mais uma parte da cidade e que chamavam de Musgueira e quero dar-lhe corda.
Este senhor estava a por-me em causa a fórmula empática "Lambert=Musgueira+veja lá, os nomes que eles arranjam= taxista contente".
- ah, desde o campo grande até aqui é a Quinta do Lambert. Foda-se, disse outra vez. A formula falhou.
- Pois, tinha ideia que era outra coisa. Isto tá muito diferente. - Ainda tentei uma última vez...
- Olhe, é como as meninas, dantes usavam todas saia e agora usam calças.

Aleluia, arranquei-lhe um Taxismo.

5/09/2010

Augusto- o taxista caridoso de Coimbra

Se saírem na estação de Coimbra B e pedirem para ir para a Torre de Vilela não se admirem se V. expulsarem duas vezes do taxi com o pretexto de não conhecerem tal localidade.

É demasiado perto e aos taxistas não lhes "compensa"- disse-me o terceiro condutor a convidar-me a sair.

Valeu-me o Sr. Alfredo, que me deu um autocolante com o seu número para colar na carteira.

"Basta ligar-me um quarto de hora antes do comboio chegar à estação e cá estarei, menina!".

Autocolante colado. Não combina é com a carteira da Lanidor. :S

5/04/2010

Livro de reclamações

Apanhei um taxista fechado. Não abriu a boca. Não foi rude, nem mal educado. Não me disse que tinha uma amante mulata na Amadora há anos e que têm um filho que já anda no sétimo ano e que até tem boas notas. Não me disse onde é que o deputado X vai almoçar prolongadamente todos os dias, à conta do povinho. Não me disse que isto anda mal, que a crise tá a dar cabo de tudo e que a culpa é do Sócrates, do 25 de Abril, dos Champalimauds, das Testemunhas de Jeová ou das criançolas com aquele cabelo lambido, colado à cara. Não chamou camelo-do-caralho ao gajo que quase ia arrancando a frente do taxi.
Não faz dele um gajo civilizado, porém. Quero o meu dinheiro de volta, não é para isto que ando de taxi.

5/02/2010

Feios, porcos e maus

Um taxista porco, verdadeiramente cevado. Uma mistura de Kenny Rogers com um sem-abrigo. Umas patilhas enormes, prontas a capturar os restos do almoço, geralmente uma sandes de torresmo ali na tasca da Praça do Chile. Como sempre, acredito em não fazer julgamentos a-priori, mesmo quando se percebe que o cheiro a vinho dentro do taxi é mesmo da casa, e não Quinta de Pancas. Afinal, nem todos os taxistas têm uma moldura digital no lugar do GPS, a passar em loop fotos do neto a tomar banho. Eu até esperava um velhote de bom fundo, filho de uma vida madrasta, temente a Deus ou à Nossa Senhora do Tablier - Santa francesa, mas sem relação a Nossa Senhora de Lourdes - , metido consigo, humilde. Mas não. Acabou-se a calma assim que uma desgraçada deixou uma décima-quarta parte da traseira em cima da faixa. Fiquei rapidamente a perceber que assim que uma mulher faz uma incorrecção na condução, é automaticamente profissional de rua e está a pedi-las, e para rematar, é apelidada de "mijona". Mijona. Acho que os meus olhos reviraram 3 vezes sem querer e ele viu pelo retrovisor.