10/12/2010

Comissão

Apanho o taxi no Bairro Alto.

- Vem este gajo , a falar francês.... Não percebo nada de francês. Com inglês safo-me, mas francês... Caralho.
- Eu também não pesco nada de francês. Tenho 10 segundos de francês e acabou.
O taxista conta-me que o francês queria ir para uma casa de meninas. É apanágio dos taxistas saberem sempre onde se dirigir. Recebem dinheiro para isso. Ou recebiam.
O Jorge explica-me, pelo caminho até casa, que os porteiros das pensões e hoteis, os porteiros das discotecas, os porteiros das casas de putas, agora já não querem dar uma comissãozita aos taxistas, os maiores angariadores de clientela. Filhos da puta, repete o Jorge.
Conta-me que alguns donos de boites querem as facturas dos taxis para poder dar uma comissão. Não tem lógica nenhuma, o propósito inicial da comissão é perpetuar uma tradição de economia paralela, pois claro. Indignado, Jorge repete-se nos impropérios, uma e outra vez, contra essa corja que não o deixa ganhar uns cobres e oferece-lhes verbal e constantemente, prazer anal de uma forma pouco polida.
Confesso que o Jorge, além de parecer um vampiro, estava mais bêbado do que devia.

10/02/2010

Talvez ainda se endireite

Primeiro, cheguei-me a uma praça de taxis e como é hábito, bati no vidro, a pedir licença para entrar. Nisto, o taxista olha para mim, liga o carro e arranca. Fico assim meio parvo, a olhar para ele, a olhar para o taxi seguinte, o taxista seguinte a olhar também.
Entro neste, ainda com a mesma cara de incrédulo, e já tenho tema para a viagem.
- Nunca me tinha acontecido. Isto é hábito?
- Também nunca tinha reparado, olhe. Se calhar queria acabar o turno.
Isto serve de ice-breaker. A partir daqui, um taxista pode contar a vida toda. Mas ao contrário de um outro profissional da partilha, o barman, o taxista é o analisado e não o analista.
- Há bocado, entrou aí um gajo, andámos um bocado, pediu-me para parar e pôs-se aí a fumar um cachimbo de coca.
- Assim? é meio perigoso, pode ter problemas.
- O que é quer? vou pô-lo na rua? nem lhe disse nada.
- Pois, cada um na sua...
- É fodido, a puta da droga, tou lixado com o meu filho. Não sei que faça.

16 anos, a chumbar anos de seguida, a fumar cachimbos de coisas que o pai não sabe o que são, pergunta-me se erva ou ache, se coca, acha que pode ser coca, pergunta-me da erva, digo-lhe o que sei, copos é comigo mas não contem comigo para mais, o homem está atrapalhado, não sabe o que fazer ao miúdo.
Só lhe soube dizer que 16 anos é muito novo para andanças tão complicadas. Se calhar, não é coca. Mas o miúdo só se mete em azares, responde ele.
E assim, durante o caminho, o taxista, grande bruto de bigodaça foi amolecendo e pedindo a minha opinião sobre o filho, novo demais para andar na má vida.

8/24/2010

Como paralisar um taxista

Às vezes, um taxista mais solitário pode não saber quando parar de exibir a sua autoridade de comentarista principal dentro do taxi. Para um gajo como eu, por exemplo, que não vê o Prof. Marcelo todos os Domingos, nem acompanha um campeonato de futebol, nem gosta do PP, pode ser algo trabalhoso. Assim, é necessário um argumento - atenção, deve ser dito sem interromper, mesmo que o taxista comece a comentar - de destruição maciça, que o deixe atónito. Deixo aqui um que desenvolvi para casos desses. Usem com moderação:

"- esses gajos? é uma cambada de chulos, é o que é. Andam aí a mamar da federação e foi ver o que foi o campeonato. Diga lá se aquilo foi alguma coisa? Mandaram pra lá todos e mais alguns e mais a prima do  do massagista e o caralho, vão todos à pala e o zé aqui é que paga, tudo com o dinheiro dos meus impostos. Havia de vir aí um gajo que eu cá sei, tomar conta disto, mas não, dizem aos jovens que é mal feito, mas olhe, dantes não se roubava como agora. E o velho morreu teso, não devia nada a ninguém, não é como esses gajos do governo, uma máfia."

Prometo que ele fica calado, depois de concordar.

7/09/2010

E em caso de acidente?

Hoje encontrei um recuerdo do avô Prezado, o que foi taxista. De reparar que no caso de uma taxista se esborrachar contra o pilar de um viaduto  ou for parar ao fundo de um rio, a primeira coisa que se espera é que lhe vão aos bolsos. Para quê, descobrir a morada de casa? o número do seguro? O número do reboque? não.
Isto é um porta-chaves, claro. Para começar, os 3 pastorinhos. E nossa senhora.

Caso nossa senhora tenha um bug ou falta de rede, São Cristóvão. É o padroeiro dos taxistas.

Instrucções de uso no verso.

Um taxista sabe em quem confiar.

6/26/2010

Ao pessoal que não pagou o taxi do Jorge

Saibam como há gente que não paga o taxi. Entre becos e vielas, dizem que vão subir para a mãe mandar o dinheiro que falta, mas os taxistas, crentes e em boa fé, ficam à espera enquanto fogem por travessas e ruelas, e não refilam muito. Pelo menos o Jorge, taxista de origem chinesa, não vos vai perseguir. Já tem mais de trinta anos e uma vida de camionista, por isso não perde muito tempo com pessoas. Diz que os camionistas são mais próximos uns dos outros. Diz que os taxistas não se ajudam muito. Mas as pessoas que conhece nos taxis são inesperadas. São complicadas e esquisitas, mas como tem de ganhar a vida, tentou. A conselho de uma amigo taxista, largou a camionagem pelo taxismo. Explicou-me que não vale a pena rotular alguém pelo aspecto que tem, e que mais vale aceitar as coisas. Lutar contra o inevitável, é perda de tempo. Diz-me isto depois de ter perdido o lucro da noite com uns chavais que desapareceram pelas arcada de um prédio, iam buscar dinheiro.

6/15/2010

Onde é que se come à noite?

O taxista faz turnos irreais. Devia trabalhar 8 horas de seguida, mas faz mais. 12. 24. Até mais. Sem horas para entrar e sair, o taxista tem de comer à hora que calha. O almoço é simples, o pequeno almoço também. Mas o jantar, que tanto pode ser às oito da noite ou às duas da manhã, é mais complicado. Ontem bem tentei saber outro sitio que não o Galeto, onde posso comer um bitoque às tantas, mas o taxista não se desbroncou. Sabem de mais algum lugar fora de horas para comer?

6/12/2010

Rádio Amália

Aquela triste e leda madrugada,
cheia toda de mágoa e de piedade,
enquanto houver no mundo saudade
quero que seja sempre celebrada.

Ela só, quando amena e marchetada
saía, dando ao mundo claridade,
viu apartar-se d'uma outra vontade,
que nunca poderá ver-se apartada.

Ela só viu as lágrimas em fio,
que d'uns e d'outros olhos derivadas
s'acrescentaram em grande e largo rio.

Ela viu as palavras magoadas
que puderam tornar o fogo frio,
e dar descanso às almas condenadas.


Luis de Camões


( o Camané canta isto, mas como eu não consigo por nada dele online, ficam os versos. )

5/25/2010

Facebook em andamento

O Preto e Verde já tem página no facebook. O taxista vai dando notícias por lá. Adicionem já!

5/23/2010

O taxista, porque?

Perguntaram-me, "porquê o fascínio com taxistas?".
A minha primeira resposta era simplista e emocional: O meu avô foi taxista e era uma figura bem disposta,  um marialva e um Prezado.
Deu-se porém que descobri não haver uma resposta curta, se for a analisar bem a necessidade de taxistas e taxismos na cidade de Lisboa. Esta é a resposta:

O taxista é uma figura arquitipica de Lisboa. Como uma varina ou um aguadeiro, fazem parte da paisagem sociológica de Lisboa e são indissociáveis do seu quotidiano. Os taxistas são como neo-xamans, até certo ponto: Andar de taxi e   começar a ouvir um taxista a explicar como é o mundo é um processo iniciático e, en passant, uma passagem de informação preciosamente guardada e fulcral ( eu chamo-lhes taxismos ) para uma sociedade culturalmente equilibrada: concepções sexistas, homofóbicas, racistas, lendas urbanas, opiniões enviesadas sobre um qualquer assunto sobejamente conhecido academicamente, política, economia, e ulteriormente, putas - outro exemplo de arqueologia social é o piropo-de-trolha, que é preservado entre os elementos masculinos da sociedade - e bares de putas, São necessárias como contraponto a uma sociedade espartilhada no discurso, amarrada ao politicamente correcto e onde praticamente não há escatologia ao nível mediático ( vide Gaiola Aberta ).
O taxista é também um barómetro social credível. Ele contacta diariamente com todas as classes sociais e é um aglomerador de experiências de vida. A sua visão - ainda que, sublinho, enviesada - é o mais puro e genuino reflexo da vivência da cidade, podendo apenas ser comparável à de um sacerdote, um barman, e ulteriormente, um antropólogo.
Sendo eles próprios matéria de análise por não estarem livres de condicionamentos sociais próprios de quem necessita de conduzir um Mercedes para auferir um vencimento que é, por muitas vezes,mais um complemento orçamental que  a principal ou única fonte de receita familiar, revelam toda uma variedade de tipologias profissionais, geralmente trabalho pouco especializado, braçal ou administrativo, sem reciclagem, estímulos sensoriais, cognitivos ou intelectuais.
São também - especialmente nos profissionais mais antigos - as últimas e mais fortes testemunhas do exodo rural em Portugal, arrancados que foram das suas raízes, vindo para a capital apenas por necessidade económica. Experienciam e testemunham desta forma não só uma transformação de cariz geográfico, mas também temporal: Campo, Portugal arcaico e tradicionalista Versus Lisboa presente. Este choque cultural ainda é notado e é para muitos, o único testemunho de uma vivência extra-urbana.
Em jeito de conclusão, Os taxistas são os tradicionais contadores de histórias, agora figuras tipicamente urbanas que, alimentando-se do seu próprio desfasamento geo-cultural, criam este modo característico de pensar que tanto me fascina.

5/21/2010

O taxista fora-do-formato

Meter conversa com taxistas não é só um prazer, é uma arte e uma ciência. Ao longo dos anos, técnicas têm sido desenvolvidas para vencer o silêncio ou para não responder a um falador com um costumaz "Pois, lá terá de ser...".

Como é hábito, pedi ao homem do taxi - este um profissional da estrada, de luvas e tudo - para ir em direcção à Alameda das Linhas de Torres ( é ali para o lado do campo grande ) , para me poupar da francofonicidade do nome do bairro. Caminho suave. Nem a Rádio Amália se ouviu.
Quando chegamos, o taxista vira-se para trás e olha-me em modo redutor:

- Pois cá estamos.... Na Quinta do Lambert.

Mau. Topou-me? ele disse isto como quem cospe no prato que vai comer ( ainda não tinha pago ) e eu, apanhado de surpresa, pausei e pensei - bullet-time com todo o meu pensamento - Olha-me este cabrão, que me tá a mandar isto à cara, vais ver vou já dar-te o troco, avôzinho:
- Bom, isto dantes não se chamava assim, não era? - sim, detesto este nome que dá um ar pseudo-pseudo-pomposo cagão ( ainda há a Alta de Lisboa, ui ) ao que é apenas mais uma parte da cidade e que chamavam de Musgueira e quero dar-lhe corda.
Este senhor estava a por-me em causa a fórmula empática "Lambert=Musgueira+veja lá, os nomes que eles arranjam= taxista contente".
- ah, desde o campo grande até aqui é a Quinta do Lambert. Foda-se, disse outra vez. A formula falhou.
- Pois, tinha ideia que era outra coisa. Isto tá muito diferente. - Ainda tentei uma última vez...
- Olhe, é como as meninas, dantes usavam todas saia e agora usam calças.

Aleluia, arranquei-lhe um Taxismo.

5/09/2010

Augusto- o taxista caridoso de Coimbra

Se saírem na estação de Coimbra B e pedirem para ir para a Torre de Vilela não se admirem se V. expulsarem duas vezes do taxi com o pretexto de não conhecerem tal localidade.

É demasiado perto e aos taxistas não lhes "compensa"- disse-me o terceiro condutor a convidar-me a sair.

Valeu-me o Sr. Alfredo, que me deu um autocolante com o seu número para colar na carteira.

"Basta ligar-me um quarto de hora antes do comboio chegar à estação e cá estarei, menina!".

Autocolante colado. Não combina é com a carteira da Lanidor. :S

5/04/2010

Livro de reclamações

Apanhei um taxista fechado. Não abriu a boca. Não foi rude, nem mal educado. Não me disse que tinha uma amante mulata na Amadora há anos e que têm um filho que já anda no sétimo ano e que até tem boas notas. Não me disse onde é que o deputado X vai almoçar prolongadamente todos os dias, à conta do povinho. Não me disse que isto anda mal, que a crise tá a dar cabo de tudo e que a culpa é do Sócrates, do 25 de Abril, dos Champalimauds, das Testemunhas de Jeová ou das criançolas com aquele cabelo lambido, colado à cara. Não chamou camelo-do-caralho ao gajo que quase ia arrancando a frente do taxi.
Não faz dele um gajo civilizado, porém. Quero o meu dinheiro de volta, não é para isto que ando de taxi.

5/02/2010

Feios, porcos e maus

Um taxista porco, verdadeiramente cevado. Uma mistura de Kenny Rogers com um sem-abrigo. Umas patilhas enormes, prontas a capturar os restos do almoço, geralmente uma sandes de torresmo ali na tasca da Praça do Chile. Como sempre, acredito em não fazer julgamentos a-priori, mesmo quando se percebe que o cheiro a vinho dentro do taxi é mesmo da casa, e não Quinta de Pancas. Afinal, nem todos os taxistas têm uma moldura digital no lugar do GPS, a passar em loop fotos do neto a tomar banho. Eu até esperava um velhote de bom fundo, filho de uma vida madrasta, temente a Deus ou à Nossa Senhora do Tablier - Santa francesa, mas sem relação a Nossa Senhora de Lourdes - , metido consigo, humilde. Mas não. Acabou-se a calma assim que uma desgraçada deixou uma décima-quarta parte da traseira em cima da faixa. Fiquei rapidamente a perceber que assim que uma mulher faz uma incorrecção na condução, é automaticamente profissional de rua e está a pedi-las, e para rematar, é apelidada de "mijona". Mijona. Acho que os meus olhos reviraram 3 vezes sem querer e ele viu pelo retrovisor.

4/16/2010

Não se admirem

Não se admirem se não vos apanharem às 5 da manhã. Os taxista evitam, porque não querem vomitado nos bancos.

3/24/2010

engate taxista

Ontem apanhei o chamado "ginjas". O da carinha matreira, cheio de tiques de engatatão old-school, que tem aquela pronuncia de bairro antigo. Gestos cúmplices a falar, de quem está a permanentemente a vender a banha da cobra.
O Ginjas vinha todo contente: tinha vindo do baile das viúvas, e a noite tinha-lhe corrido bem, - apesar de não ter facturado - tinha ganho o interesse de uma senhora em particular, o que lhe massajou o ego o suficiente para se gabar do feito ainda assim.
Explicou então, com detalhe, que esquema usam os taxistas para ganhar uns cobres à conta das seguradoras. É claro que não é visto como uma desonestidade da classe. É um modo de vida, só.
Não sabem como a vida tá difícil?

3/07/2010

O senhor Romeu

Nervoso, o senhor Romeu começa a falar. Mal me deu tempo para sentar, já dizia que era serralheiro.
-"Faço portas de cemitérios."
- "serralheiro de portas de cemitério? isso é que é uma especialização... Não faz mais nada?"
-"ah, faço de tudo. Sabe lá."

Bem disposto, diz que já trabalhou que chegue e que a seguir quer ir para vale de lençois. Começo a perceber depois que o senhor Romeu tem um problema cognitivo, que o impede de seguir um raciocínio , uma ideia, e acabar uma historia:
Dispara de rajada que teve de fazer uma endoscopia alta, que tem lá-qualquer-coisa, que tem uma cadelinha que tem de levar a passear assim que chegar a casa, que tem família na Holanda, que foi judoca, que o genro é polícia, que tem uma neta que tem jeito para o basquet, que tem 5 filhos, que às vezes tem de puxar da 38 para meter respeito aos rufias, que a neta tem 16 anos.

Espera. Neta com 16? Então, já?
- Pois, tenho um filho com 37.
O senhor Romeu, sempre bem disposto, gordo e cara de bem com a vida, não me pareceu assim tão velho.
- Foi pai com quantos anos?
- Com 14.
- Porra.
- o que é que quer, já era comestivel... Lá foi. Ainda tive problemas no registo, porque não podia dar o filho como meu, era novo demais.

3/04/2010

A queda do nosso glorioso império

Noite.
Taxista.
Depois de indicar direcções e sentar-me bem sentado:

-"Sabe, está para haver uma revolução..."
-"mmm desculpe?"
-"Uma guerra civil."
-"mm.... cá?" digo com cara de cá-não-acontece-nada-pá.
-"...e para breve. Os pobres vão cortar a cabeça aos ricos. Eu pensava que seria daqui a dez anos, mas pela conversa que tive ontem com uma senhora no taxi, percebi que será daqui a 4 anos."
-"ah, ainda vai demorar. Mas isso até faz falta." Eu à espera que ele fosse o cabecilha da guerra civil e afinal nada.
-"Mas sabe que isto me assusta, sabe porquê? porque faremos outra revolução sem sentido e o país não vai encontrar o rumo, e vamos continuar à deriva. Estude história, meu amigo."

Ok.

Imaginar longa dissertação sobre a queda do império português, metendo Filipes, guerras liberais, e a Inglaterra de 1820 e o Sebastianismo.

Encontrado um taxista tão douto e de calibre intelectual à minha altura, tive de partilhar a minha opinião. Resumi a existência do português à sua burrice, ingovernabilidade e talento para se queixar da vida. O gajo ficou ofendido, afinal parece que tinha fé que um dia ainda damos a volta por cima.

3/01/2010

O Moicano

"Sabe menina, eu sou o último dos moicanos... Sou um lobo solitário. Quanto muito, engato uma ou outra viúva ali no Maxime. Mas com classe, não pense que sou ordinário. Eu cá não faço amor como quem come tremoços..."

1/31/2010

Taxi! - Peça em 3 actos

Acto I


Taxi!
Entra no taxi, segue-se uma espantosa e longa descrição por parte do taxista de meia idade, das virtudes de um mecânico em particular, capaz de fumar e mudar um bendix ao mesmo tempo, qual mago de chave de bocas na mão. O entusiasmo e paixão usada na descrição roçava o homo-erótico. Segue-se uma explicação de como é usada uma caixa de velocidades de um Mercedes SE, que seguia com o interesse possível. Até agora: "eeeeh o senhor conduz?" Não. Nem tenho carta. Nem carro.
Cai o pano.

Acto II

Começa com animado diálogo entre o taxista e o retrovisor. Agora explica como os taxis são usados em regime de cama quente. "desculpe o senhor não disse o seu nome... Senhor...?" "B'uno." "senhor Cruz? Pois olhe senhor Cruz, digo-lhe: esta vida é complicada." A viagem segue, quando se percebe que o dinheiro que se leva na carteira não chega.
Cai o pano.

Acto III

Parado no destino, o taxi espera solução para o dinheiro em falta. fazer um levantamento é possível, mas só longe da vista do taxista. "Senhor Cruz, tem de me deixar aí a sua carteira.." Nesta altura, penso : se tivesses pedido o meu B.I., ias ter o prazer de conhecer o Senhor Prezado...
Carteira entregue, taxista testa: "Senhor Cruz, tem o seu cartão multibanco?".
Por acaso não, está na carteira.
Taxista rejubiliante: "A sua simplicidade, senhor Cruz... Assim se vê como é uma pessoa honesta, veja lá!"

Levantamento feito, regressa acolhido como freak : " Senhor Cruz, estava aqui a contar aos meus colegas da sua simplicidade." diz o taxista, rindo.
Cai o pano, fim da peça.

1/22/2010

Reinvindicações da Classe

"Olhe menina, nós somos uma classe muito mal tratada! Ninguém olha por nós!
A única coisa boa que fizeram nos últimos tempos foi inventarem a "Rádio Amália". Assim que a modos, um sujeito sempre se distrai com um faducho!"

1/21/2010

Lá está...

Taxista de ontem à noite:

-"É para onde?"
-"Para o cemitério de Benfica, por favor." - A partir daqui, fico à espera.
-"Eh, mas a esta hora tá fechado. É para dentro do cemitério?" - sorriso maroto na cara, a olhar para trás.
-"eh-eh não, é cá fora.."

Para os taxistas que lêem este blog: Ouçam coisas novas. Re-inventem-se, como a outra.
O Tony de Matos já morreu há 20 anos, UHF tem um careca gadelhudo a "cantar" sempre o mesmo, O Bruno Nogueira tem mais piada que os Parodiantes. As Nossas-Senhoras com o semáforo-miniatura no tablier não vos vão salvar. Pouco cabelo muito comprido, a dar a volta à cabeça e a acabar na testa não é uma "farta cabeleira". Sim, comprem TomToms, mas usem - eu sei que assim é dificil ir da Portela ao Rossio passando por Sintra. Não partam do princípio que toda a gente é do Benfica. O Berardo não é um heroi nacional. E, por favor, não peçam para o Salazar voltar, já temos um governo à altura.

Deitem fora o livrinho das piadas que vinha com o taxi, vá lá.

1/19/2010

Gorjeta escandinava

Apanhei o taxi para uma volta invulgarmente grande. Quase de uma ponta à outra da cidade, já sabia que ia pagar bem, enchi-me de nota.
Na altura de pagar, saco da carteira gorda. O taxista lembrou-se que eu devia ser rico, e não apenas um gajo pronto a pagar o que devia. Não perdeu tempo:
"não quer deixar isto de gorjeta, ó chefe?"
5 euros? nem no Eleven. Depois, o senhor fez o pior:
"Vá lá ó chefe..."- Insistir. Assim não.

Passei a fazer como quando se regateia com um cigano: uma nota de 5 num bolso, uma de 20 no outro.

1/13/2010

Pescarias com o Zé

O chófer de hoje ia fodido com a chuva. Pelo caminho, depois de amaldiçoar o tempo e esclarecer-me que agora o tempo era como o que encontrou em Moçambique, foi falando com o Zé, que - explicou-me ele - é um preto bacano, que é mecânico. Mete juntas da cabeça ( esta peça é mítica ) e tal, de preferência de marca. As da candonga, fiquei a saber, são 3 euros mais baratas e não valem a diferença. Disse-me que o Zé não estava a conseguir falar como deve ser porque estava ainda a ressacar: foi pescar às tantas da manhã, e o tempo de espera é feito a mamar super-bocks.

Quem é que consegue sair de casa para ir pescar às tantas da matina com este tempo? um taxista.

It's raining cats and dogs, versão taxista.

"Só não chove é vinho e cerveja! foda-se, caralho para a chuva."

1/11/2010

A caminho do cemitério

Entro no taxi, - boa noite - digo para onde quero ir e começo a rezar aos santinhos para que o taxista seja um pulha mal-humorado, um eremita de automóvel, anti-social que chegue para me poupar do sketch habitual:
Assim que digo "cemitério de Benfica", há uma pausa. Ambiente tenso, taxista entra numa busca espiritual, passam uns segundos largos. Ouço-os a pensar : " epa... p'ró cemitério, pois, mas não é bem. Mando a piada?.. ah, o gajo tem cara de que se vai rir. Cá vai..." De sorriso gingão, disparam:

- É para o cemitério, mas para o lado de fora, não é amigo?
- eh-eh-eh... é sim.

Bolas. E nem um buraco para me esconder... Pronto, já passou.
Pior é quando insistem e perguntam do campeonato ou pelo jogo de ontem:

- Então, o benfica? aquilo ontem é que foi uma tourada, o Nuno Gomes...
- Eh, eu não ligo muito a futebol.
-....

Os taxistas às vezes desesperam comigo. Caladinhos que nem ratos.

Os meus ais

Taxista ucraniano munido de GPS onde regista as localidades para não haver possibilidade de engano.

- Olhe se faz favor, queria ir para Cascais ( e mergulho a cabeça no I-phone, actualizando contactos, compromissos, etc de forma a optimizar a corrida nunca inferior a 20 minutos)

(Passados 5 minutos)

- Chegámos, sinhora.

- Mas isto não é Cascais. Isto são os Olivais.

- Disculpe, sinhora. Disculpe. Enganei-me só no prinzípio da palavra.

- ...

1/10/2010

Primeiro Post

Um blog que reune os relatos das viagens de taxi por Lisboa. Tão simples quanto isto.

1/08/2010

Microgaitas

1, 2, 3. Experiência. Som. Soooooom.

1/07/2010