10/02/2010

Talvez ainda se endireite

Primeiro, cheguei-me a uma praça de taxis e como é hábito, bati no vidro, a pedir licença para entrar. Nisto, o taxista olha para mim, liga o carro e arranca. Fico assim meio parvo, a olhar para ele, a olhar para o taxi seguinte, o taxista seguinte a olhar também.
Entro neste, ainda com a mesma cara de incrédulo, e já tenho tema para a viagem.
- Nunca me tinha acontecido. Isto é hábito?
- Também nunca tinha reparado, olhe. Se calhar queria acabar o turno.
Isto serve de ice-breaker. A partir daqui, um taxista pode contar a vida toda. Mas ao contrário de um outro profissional da partilha, o barman, o taxista é o analisado e não o analista.
- Há bocado, entrou aí um gajo, andámos um bocado, pediu-me para parar e pôs-se aí a fumar um cachimbo de coca.
- Assim? é meio perigoso, pode ter problemas.
- O que é quer? vou pô-lo na rua? nem lhe disse nada.
- Pois, cada um na sua...
- É fodido, a puta da droga, tou lixado com o meu filho. Não sei que faça.

16 anos, a chumbar anos de seguida, a fumar cachimbos de coisas que o pai não sabe o que são, pergunta-me se erva ou ache, se coca, acha que pode ser coca, pergunta-me da erva, digo-lhe o que sei, copos é comigo mas não contem comigo para mais, o homem está atrapalhado, não sabe o que fazer ao miúdo.
Só lhe soube dizer que 16 anos é muito novo para andanças tão complicadas. Se calhar, não é coca. Mas o miúdo só se mete em azares, responde ele.
E assim, durante o caminho, o taxista, grande bruto de bigodaça foi amolecendo e pedindo a minha opinião sobre o filho, novo demais para andar na má vida.

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