Perguntaram-me, "porquê o fascínio com taxistas?".
A minha primeira resposta era simplista e emocional: O meu avô foi taxista e era uma figura bem disposta, um marialva e um Prezado.
Deu-se porém que descobri não haver uma resposta curta, se for a analisar bem a necessidade de taxistas e taxismos na cidade de Lisboa. Esta é a resposta:
O taxista é uma figura arquitipica de Lisboa. Como uma varina ou um aguadeiro, fazem parte da paisagem sociológica de Lisboa e são indissociáveis do seu quotidiano. Os taxistas são como neo-xamans, até certo ponto: Andar de taxi e começar a ouvir um taxista a explicar como é o mundo é um processo iniciático e, en passant, uma passagem de informação preciosamente guardada e fulcral ( eu chamo-lhes taxismos ) para uma sociedade culturalmente equilibrada: concepções sexistas, homofóbicas, racistas, lendas urbanas, opiniões enviesadas sobre um qualquer assunto sobejamente conhecido academicamente, política, economia, e ulteriormente, putas - outro exemplo de arqueologia social é o piropo-de-trolha, que é preservado entre os elementos masculinos da sociedade - e bares de putas, São necessárias como contraponto a uma sociedade espartilhada no discurso, amarrada ao politicamente correcto e onde praticamente não há escatologia ao nível mediático ( vide Gaiola Aberta ).
O taxista é também um barómetro social credível. Ele contacta diariamente com todas as classes sociais e é um aglomerador de experiências de vida. A sua visão - ainda que, sublinho, enviesada - é o mais puro e genuino reflexo da vivência da cidade, podendo apenas ser comparável à de um sacerdote, um barman, e ulteriormente, um antropólogo.
Sendo eles próprios matéria de análise por não estarem livres de condicionamentos sociais próprios de quem necessita de conduzir um Mercedes para auferir um vencimento que é, por muitas vezes,mais um complemento orçamental que a principal ou única fonte de receita familiar, revelam toda uma variedade de tipologias profissionais, geralmente trabalho pouco especializado, braçal ou administrativo, sem reciclagem, estímulos sensoriais, cognitivos ou intelectuais.
São também - especialmente nos profissionais mais antigos - as últimas e mais fortes testemunhas do exodo rural em Portugal, arrancados que foram das suas raízes, vindo para a capital apenas por necessidade económica. Experienciam e testemunham desta forma não só uma transformação de cariz geográfico, mas também temporal: Campo, Portugal arcaico e tradicionalista Versus Lisboa presente. Este choque cultural ainda é notado e é para muitos, o único testemunho de uma vivência extra-urbana.
Em jeito de conclusão, Os taxistas são os tradicionais contadores de histórias, agora figuras tipicamente urbanas que, alimentando-se do seu próprio desfasamento geo-cultural, criam este modo característico de pensar que tanto me fascina.
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